O eu, o
outro e o nós – É na interação com os pares e com adultos que as crianças
vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que
existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista.
Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar,
na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os
outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando- se como seres
individuais e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações sociais e de
cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado,
de reciprocidade e de interdependência com o meio. Por sua vez, na Educação
Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato
com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes
atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes,
celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de
perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros
e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos.
Corpo,
gestos e movimentos – Com o corpo (por meio dos sentidos,
gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as
crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno,
estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si,
sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se,
progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens,
como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se
comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As
crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e, com seus
gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites,
desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode
ser um risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das
crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas
pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e
não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover
oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito
lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório
de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir
variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com
apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas
e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se
etc.).
Traços,
sons, cores e formas – Conviver com diferentes manifestações
artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da
instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências
diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as
artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o
teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências,
elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções
artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com
sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos,
modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas
experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam
senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da
realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a
participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e
apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade,
da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se
apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas
singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e
vivências artísticas.
Escuta,
fala, pensamento e imaginação – Desde o nascimento, as
crianças participam de situações comunicativas cotidianas com as pessoas com as
quais interagem. As primeiras formas de interação do bebê são os movimentos do
seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros recursos
vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. Progressivamente, as
crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e demais recursos de
expressão e de compreensão, apropriando-se da língua materna – que se torna,
pouco a pouco, seu veículo privilegiado de interação. Na Educação Infantil, é
importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir,
potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de
histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas
elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas
linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e
pertencente a um grupo social.
Desde cedo,
a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e
acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no
contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de
língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros,
suportes e portadores. Na Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve
partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer.
As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador
entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela
leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além
disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia
a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação
entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas
corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as
crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam,
inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em
escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da
escrita como sistema de representação da língua.
Espaços, tempos,
quantidades, relações e transformações – As crianças vivem inseridas em
espaços e tempos de diferentes
dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais socioculturais.
Desde muito pequenas, elas procuram se situar
em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje,
ontem e amanhã etc.).
Demonstram também curiosidade sobre o mundo
físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas,
as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as
possibilidades de sua manipulação etc.)
e o mundo sociocultural (as
relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e em
que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a
diversidade entre elas etc.). Além disso, nessas experiências e em muitas
outras, as crianças também se deparam, frequentemente, com conhecimentos
matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões,
medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias,
reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de numerais
cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto, a
Educação Infantil precisa Promover experiências nas quais as crianças possam
fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno ,
levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às
suas curiosidades e indagações. Assim, a
instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem
seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu
cotidiano.
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